Índios temem conflitos por terras na área de Belo Monte

WE BUILD CONNECTIONS WITH ORGANIZATIONS AND COOPERATE WITH SMART PEOPLE ALL OVER THE WORLD

A violência que atinge o Pará começa a se aproximar das aldeias indígenas do complexo do Xingu, região onde será construída a hidrelétrica de Belo Monte (Valor Econômico,09.06.2011).

A pressão sobre as aldeias é feita por grileiros e fazendeiros da região. As terras indígenas Juruna do Km 17, Apyterewa, Arara da Volta Grande do Xingu e Paquiçamba, todas na área de influência da hidrelétrica, são os principais alvos dos possíveis conflitos. O presidente da Associação dos Índios Moradores de Altamira, Luiz Xiporia, disse ao Valor que os índios que vivem no entorno de Belo Monte passaram a ser constantemente ameaçados de morte. “Se nada for feito, poderá haver uma catástrofe na região”, afirmou. A construção de Belo Monte vai aumentar a grilagem de terras e os conflitos com as tribos que vivem próximas ao local da hidrelétrica.

“Há um clima de tensão muito forte em toda a região, os índios que vivem no entorno de Belo Monte passaram a ser constantemente ameaçados de morte”, conta Xiporia, que pertence à aldeia Apyterewa. “Nós precisamos dialogar e agir. Se nada for feito, poderá haver uma catástrofe na região”, diz ele.

Líder da área indígena Juruna do Km 17, Sheyla Yakarepi acusa os governos local e estadual de não dialogarem sobre o problema. “Todos sabem que há ameaças de morte rondando as aldeias, mas ninguém parece disposto a encarar esse problema de frente”, afirma.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) também está preocupada com a situação e decidiu que irá pedir uma intervenção direta do governo para evitar que a violência se alastre pelas terras indígenas. Doto Takak-Ire, líder caiapó na região do Médio Xingu e coordenador da Funai no município de Novo Progresso, diz que a fundação, vai solicitar ao governo federal uma intervenção direta para levar mais segurança à região.

“Sabemos que a construção da usina de Belo Monte vai provocar mais grilagem de terras e conflitos com as tribos que vivem próximas ao local da hidrelétrica”, diz. “Por isso, não adianta só a Funai fazer segurança. A gente sabe que grileiro de terra não vai respeitar o índio. Tem de ser algo de branco com branco, senão não vai resolver”, comenta o líder caiapó.

O relatório de impacto ambiental de Belo Monte aponta que os dois reservatórios da usina não deverão inundar terras indígenas. Alguns reflexos da obra, no entanto, aumentam sensivelmente o interesse em explorar as reservas. O Valor sobrevoou toda a região que será direta e indiretamente afetada pela obra. Na margem esquerda do Xingu, onde será aberto o canal para a casa de força principal de Belo Monte, já há áreas com alguma devastação provocada pela extração ilegal de madeira e abertura de pasto. Na Volta Grande do Xingu, no entanto, numa extensão de aproximadamente 100 km – que ficará com a vazão permanentemente baixa devido à construção da barragem do sítio Pimentel –, diversas aldeias vivem em uma área rica em minérios e metais preciosos, como ouro, o que atrai o interesse de garimpeiros.

Nesse trecho, onde estão as terras indígenas Arara da Volta Grande do Xingu, Paquiçamba e Trincheira Bacajá, boa parte da floresta permanece praticamente intacta. Doto Takak-Ire diz que os índios também estão preocupados com a invasão de terras, devido à migração em massa de pessoas para a região, movimento puxado pelo aumento do preço da terra e pelas ações de reassentamento.

Os episódios de violência que tomaram conta da Amazônia nas duas últimas semanas, com a morte de líderes camponeses e ambientalistas, fez soar um alerta em Brasília. Na semana passada, o secretário da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o governo tomará medidas mais enérgicas para enfrentar a criminalidade na região.

Embora Belo Monte esteja razoavelmente distante dos principais focos de conflito entre ambientalistas e extrativistas ilegais no Pará – Santarém está a 500 km de Altamira -, a preocupação com o complexo do Xingu é imensa. O governo quer a atuação de uma força conjunta entre Exército, Marinha, Aeronáutica e Polícia Federal para aumentar a atuação em áreas de risco. Com tantas críticas e polêmicas em relação a Belo Monte, a última coisa que o governo gostaria de ver é um ato de violência nas áreas de influência da obra da usina hidrelétrica.

A Norte Energia, sociedade responsável pela construção e operação da usina, tem mantido diálogo constante com lideranças indígenas da região. O governo também tem atuado para estreitar o relacionamento com as aldeias e evitar conflitos. A Funai, por exemplo, participa do comitê gestor do plano de desenvolvimento regional do Xingu, o grupo criado para gerenciar as ações socioambientais ligadas à construção da hidrelétrica.

Há, no entanto, aldeias indígenas que não aderiram ao comitê liderado pelo governo federal. “Todos sabem que nessa região tem muito pistoleiro e gente morrendo para todo lado”, diz Doto Takak-Ire. “Vou levar esse assunto para o comitê gestor, para que a gente tente evitar o pior.”

Comments (3)

oi eu sou Doto takak-ire da etnia kayapo de novo progresso PA

Oi Doto takak-ire, como está a situação aí nas aréas indígenas agora?
Como estão as etnias indígenas que se reuniram em 2009 na Aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto/Jarina?
Estamos divulgando a situação de vocês no facebook.
Não calaremos diante das injustiças cometidas contra os povos indígenas, os verdadeiros habitantes da terra.

Deixe um comentário