Festa para o Xingu Vivo, a militância que mora no Sul

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Em janeiro deste ano, o Xingu Vivo recebe uma ligação de Porto Alegre. Uma moça, que se apresenta como Samantha Pinotti, pede uma informação: “se eu fizer um brechó para arrecadar recursos para o movimento, vocês aceitariam a contribuição?”. A ficha demorou cinco segundos pra cair. “Claro! Obrigada, Samantha!”

Não foi a primeira vez que isto ocorreu. Foi a segunda. Tempos antes, Marcelo Acácio Rodrigues havia pedido permissão para usar imagens do Xingu Vivo para fazer adesivos, vender e repassar o dinheiro arrecadado ao movimento. Uma iniciativa individual, um gesto tão simples, mas tão enormemente significativo para nós, que as vezes faltam as palavras.

Maria, Samantha e o item mais caro do brechó

Mas de volta a Porto Alegre. Nos encontramos com Samantha no fim de janeiro, e os planos já tinham evoluído. Não seria só um brechó, seria uma festa, com bandas, discotecagem, fotografia, oficina de maquiagem, amigos engajados. E as verbas seriam destinadas ao trabalho de comunicação em Altamira.

No dia 31 de março, a coisa aconteceu. Samantha e seus amigos juntaram roupas e objetos, conseguiram um bom local, armaram o palco, e mais de 100 pessoas passaram por la. O saldo final da arrecadação foi de R$ 800 (o item mais caro do brechó era um casaco feito pela mãe de Samantha, e comprado por R$ 70 pela estudante e fotógrafa Maria Melgarejo, de 15 anos).

E foi difícil? Pensar em fazer? E fazer? Samantha explica

A idéia
Sempre fui uma defensora da natureza e dos povos indígenas. Quando fiquei sabendo sobre Belo Monte, há alguns anos atrás, comecei a pesquisar sobre o assunto, para não me envolver sem conhecimento. Quando entendi do que se tratava e o que realmente acontecia no local, fiquei muito embravecida, mas me sentia de mãos atadas. Eu esbravejava por todos os cantos que era contra, mas sabia que isso era pouco, que era militância de sofá.

Este ano, decidi que eu havia de fazer algo concreto, e como sou acostumada a fazer eventos e brechós, pois trabalhei com moda por muitos anos, achei que um brechó beneficente seria algo sólido. Quando passei a ideia para o Alexandre Munhoz do CulturaRockClub, ele abraçou a causa. A partir daí o evento tomou vida, tornou-se real.

Resolvi mandar o dinheiro arrecadado para a comunicação do movimento, pois vi o comprometimento do repórter Ruy Sposati, que está em Altamira, correndo risco de vida, para nos passar as informações VERDADEIRAS. Além disso, retomei meu blog www.corujaburaqueira.blogspot.com, onde escrevo e reproduzo matérias, muitas sobre Belo Monte.

O efeito
Tenho certeza de que o impacto foi muito positivo. As pessoas ficaram bastante comovidas com a situação dos moradores de Altamira, dos indígenas e ribeirinhos, do Ruy, que acabou sendo o herói do evento. Tenho certeza que as pessoas que participaram do evento saíram com uma nova idéia do que é este empreendimento e de como a mídia livre ainda sofre repressão no Brasil. Muitas das pessoas que participaram do evento já tem compartilhado noticias em suas redes sociais e estão participando ativamente na divulgação das informações verdadeiras. Quem foi volta e traz amigos num próximo evento, com certeza!

A festa


Confio que foi bastante satisfatória: tivemos a colaboração de vários artistas e amigos que ajudaram a transformar um brechó em um multievento, com shows, oficinas, discoteca, bazar, etc. Foram tantos os amigos que ajudaram que é difícil citar todos os nomes. Mas certamente nenhum deles participou por reconhecimento, e sim por amor a causa.

Algumas pessoas que passavam pela rua e viam os Senno Artists “discotecando” no lounge externo, paravam para saber o que era e pagavam para entrar no evento!

Mais de 100 pagantes participaram do evento, e aproximadamente 20 pessoas participaram de todo o processo de organização.

O pessoal que não foi pelo brechó, foi para ver os amigos tocarem, ou para participar das oficinas, e isso foi muito bacana, pois percebemos que unindo forças podemos mais. Se fosse apenas um Brechó, não sei se o resultado seria tão positivo!

Militância
Acredito que o movimento de resistência à construção desta obra esta cada vez maior e mais consciente. As pessoas estão descobrindo, através de mídias alternativas, o que realmente acontece nos canteiros de obra de Belo Monte, e qual a situação da cidade e dos moradores de Altamira.

Penso que é um momento para não desistir, e fazer a informação circular. Não podemos nos intimidar agora, pois esta usina não é fato consumado. A única chance que temos de parar com esta brutalidade é conscientizando todas as pessoas do que se trata realmente esta obra. O que afinal esta por trás da energia que o Brasil precisa?

É fácil para qualquer pessoa ver que o governo não quer tornar este assunto de conhecimento público. Eu, por exemplo, nunca vi a presidente Dilma falando sobre Belo Monte, que é o carro chefe do PAC. Nunca vi estampado na capa de nenhum jornal. Porque ninguém toca neste assunto? Certamente porque algo eles tem a nos esconder. É por isso que precisamos de pessoas como o Ruy, dentro das obras, para que tenhamos as informações verdadeiras.

Só o fato dele já ter sido ameaçado de morte, e recentemente ter recebido uma intimação o proibindo de chegar perto dos canteiros, ameaçando-o de cadeia, já é uma boa prova de que a Norte Energia esta nos escondendo alguma coisa, bem feia e bem grande.

Não é essa a energia que queremos. Por isso digo e repito “Quem não tem medo de viver, não pode ter medo de morrer”, essa sensação o Ruy deve ter forte em seu peito, e nós também, fazendo o que estiver ao nosso alcance para envergonhar o governo por este crime, não deixando nenhuma pessoa ao nosso redor sem saber o que de fato é esta construção.

Só não vê quem não quer, sempre tem aquele que por medo apenas concorda ou se faz de cego, mas creio que juntos, nós que acreditamos que esta atrocidade pode e deve parar, podemos fazer alguma diferença. Todo ato de resistência é valido, desde que seja pacifico, vamos usar a verdade como defesa e dizer não a Belo Monte.

(Fotos: Maria Melgarejo e Bruno Saldivia)

Comments (2)

Estamos Juntos, oque acontece em nosso país diz respeito a todos nós cidadãos Brasileiros, que devemos dar valor a nossa terra, ao nosso povo, a nossa história. O governo está literalmente Passando por Cima de Índios e Ribeirinhos, é imprescindível que todos se mobilizem, patriotismo não é só torcer para a seleção em época de Copa, mas se envolver profunda e organicamente com tudo que acontece em nossa sociedade, tão debilitada e doente, pela falta de Amor e ética.
Parabéns a todos que fizeram conosco o primeiro "Multi Evento Natureza Viva".

Alexandre Munhoz

E vamos pro proximo Alê???

Sam

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