Na tarde desta quarta, 13, o juiz Horácio de Miranda Lobato Neto, da 2ª Vara Cível de Altamira, deferiu, em caráter liminar, novo interdito proibitório contra o Movimento Xingu Vivo, dois de seus membros e seu assessor de imprensa.
De acordo com o juiz, o interdito se justificaria em função dos materiais de divulgação do encontro Xingu +23 na internet e de supostos “registros fotográficos de atos de vandalismos e de ocupação de bens do CCBM [Consórcio Construtor Belo Monte]”.
A liminar especifica como área do interdito imóveis de moradores da Vila de Santo Antonio – que fica em frente ao canteiro de obras Belo Monte – despejados pela Norte Energia. Segundo o documento, teria ficado comprovada “ameaça iminente de invasão em sua [da Norte Energia] posse dos imóveis localizados na Agrovila Santo Antônio”. A empresa ja despejou 225 famílias da comunidade.
Hoje praticamente deserta, a vila recebe, pelos próximos dias, o encontro Xingu +23, que celebra nesta quarta a última missa de Santo Antonio, a mais tradicional da antiga comunidade. Mais de 300 ribeirinhos, agricultores, pescadores e indígenas atingidos e ameaçados por Belo Monte já estão acampados em um campo de futebol da vila para discutir, até o dia 17, os impactos e as formas de resistência contra a usina.
“Nós estamos ocupando nosso prório campo de futebol, lugar público e que ninguem comprou não. A única invasão que existe em Santo Antonio hoje é a do mato no cemitério embargado pela Norte Energia, onde os túmulos dos nossos mortos estão tomados por ervas daninhas”, protesta um dos pescadores que perdeu sua casa para a empresa. Muitos dos ex-moradores voltaram ao local nesta quarta para acompanhar a missa e os debates, e ainda viram as madeiras de suas antigas casas empilhadas e apodrecidas nos terrenos onde viveram por muitos anos. “Só sentimos dor quando vejo essa sujeirada. Nunca que ninguem tem vontade de causar mais estrago do que a Norte Energia ja causou nesses lugares que foram nossos e hoje eles dizem que é deles”, diz o pescador.
De acordo com a coordenação do Xingu Vivo, além de ser a terceira tentativa de criminalização do movimento via interdito proibitório, os argumentos apresentados no texto desta nova liminar são fantasiosos. “Enquanto a Norte Energia destruiu centenas de casas, despejou dezenas de famílias, barrou e sujou o Xingu, estragou a água potável dos indígenas, o movimento nunca depredou nenhum bem da Norte Energia. Desafiamos o juiz a nos mostrar qualquer foto que comprove tal afirmação!”