Direitos da Volta Grande do Xingu


A CAMPANHA

A campanha pela vida da Volta Grande do Xingu visa denunciar e reverter o crime de ecocídio do qual o rio é vítima desde a construção de Belo Monte.

O crime de ecocídio pode ser entendido como o extermínio deliberado de um ecossistema; ou, na definição da comissão de juristas que recentemente apresentou o conceito para a comunidade internacional, “qualquer ato ilícito ou arbitrário perpetrado com consciência de que existem grandes probabilidades de que cause danos graves que sejam extensos ou duradouros ao meio ambiente”.

A Volta Grande do Xingu, trecho de um dos maiores e mais importantes rios amazônicos onde o governo brasileiro construiu a hidrelétrica de Belo Monte, é uma região de extrema importância para a conservação da biodiversidade da Amazônia. A região faz parte das áreas prioritárias para Conservação da Biodiversidade, indicado em portaria federal pelo Ministério do Meio Ambiente em 2019, dada sua complexa geomorfologia que favorece a existência de espécies endêmicas na região.

Atualmente, porém, o fluxo normal da Volta Grande do Xingu é desviado em até 80% para as turbinas da usina. A navegabilidade do rio, principal via de escoamento e transporte da produção das comunidades, de mercadorias da cidade e das próprias populações beiradeiras, tem se tornado inviável em várias partes do chamado Trecho de Vazão Reduzida. No verão amazonense, os igarapés e lagoas viram lama, e as roças dos pequenos agricultores ao longo do rio tem secando em função do stress hídrico causado às águas subterrâneas. Inúmeros estudos científicos – vários do próprio Ibama – comprovaram a inviabilidade deste sistema de aproveitamento do rio pela hidrelétrica (o chamado Hidrograma de Consenso), mas, a despeito de todos os impactos, a presidência do órgão ambiental não apenas autorizou sua aplicação em 2021, como pode acordar uma vazão ainda menor em 2022.

A mais de seis anos, a Volta Grande não consegue garantir a reprodução da ictiofauna. Sob um sol escaldante, alevinos presos em poças d’água, formadas onde antes as florestas se enchiam com os igapós, sofrem uma morte lenta por cozimento, falta de oxigênio e apodrecimento da água. O Xingu impactado por Belo Monte está praticamente despovoado de peixes, e os beiradeiros e indígenas estão passando fome. Pescadores há tempos perderam seu ganha-pão, enfrentam enormes dificuldades financeiras e cada vez mais se veem obrigados a buscar outros meios de vida.

Diante desse cenário, o Movimento Xingu Vivo, os Núcleos Guardiões do Xingu, Amazon Watch, International Rivers, AINDA e outras organizações iniciaram uma campanha para salvar a Volta Grande do Xingu por meio de ações jurídicas, políticas, de mobilização e de comunicação.