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Altamira recebe evento contra Belo Monte e em defesa do Xingu

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Data: 10 de agosto de 2010
Veículo:
Blog A’Uwe
Autor: Karina Miotto

Semana passada aconteceu o Acampamento Terra Livre Regional, que começou no dia 9 de agosto em Altamira, no Pará, e terminou na quinta-feira. O objetivo era discutir impactos de grandes obras na Amazônia, além de debater a construção da usina de Belo Monte. As discussões resultaram em uma carta que será enviada ao governo federal e o foco central recaiu, logicamente, sobre a polêmica hidrelétrica que vai afetar o rio Xingu e as milhares de vidas que dependem dele.
Durante as reuniões, os manifestantes falaram inúmeras vezes sobre a realização de um “enfrentamento”, ação que lembra os “empates” feitos por seringueiros contra o desmatamento na década de 80, em que pessoas de diversas idades se colocavam entre árvores e serras elétricas. Como chegou a declarar Chico Mendes, “trata-se de uma forma pacífica de resistência”. “Neste encontro está visível o fortalecimento dos movimentos indígenas e sociais. Estamos em um país democrático, temos o direito constitucional de ir e vir e, portanto, de defender o Xingu”, disse Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre.

“Este projeto é um desrespeito aos direitos sociais. Quando as máquinas entrarem no canteiro de obras, entraremos também. Se for para ir às ruas, iremos. Para acampar, acamparemos. Para dar nossas vidas, nós daremos”, afirmou Fabio Barros, diretor do Movimento Consulta Popular, durante o lançamento oficial da campanha “Em Defesa do Rio Xingu e Contra a Hidrelétrica de Belo Monte”. Até Raoni, a mais respeitada liderança indígena do país, apareceu por lá. O líder Kayapó, assim como outras pessoas que estiveram na cidade, afirmou que vai lutar contra a usina “até o fim”. De acordo com Marcelo Salazar, do ISA, não é possível prever o que pode ocorrer caso haja, de fato, este enfrentamento, mas alerta que “a falta de diálogo e o atropelamento do processo de licenciamento de Belo Monte gerou uma situação de grave risco para os povos da região”.

O evento foi encerrado com uma marcha pelas ruas da cidade com centenas de pessoas entre mais de 30 etnias indígenas, ribeirinhos, pescadores e moradores de Altamira. De acordo com lideranças locais, é a primeira vez que povos de outras regiões do país demonstraram, em público, sua solidariedade àqueles que sofrerão as consequências da construção da usina. Fazia muito sol e, durante a passeata, se escutava pelo menos 3 tipos diferentes de cantos. Um caixão simbolizando, obviamente, a morte, foi deixado em frente à sede da Eletronorte.
Também em frente à sede, 4 grupos indígenas dançaram e, em seguida, fizeram um discurso a respeito da construção da hidrelétrica: Kayapó, Xavantes, Guajajara e Awá-Guajá – este último, do Maranhão, composto por 3 homens. Um deles, com sotaque carregado e olhos marejados, pega o microfone com mãos trêmulas e faz um apelo. “Ajudem a defender a nossa mata, a nossa terra. Ela está sendo invadida por madeireiros”. De fato, as terras dos Awá-Guajá têm sofrido grandes pressões.

Depois dos discursos, as pessoas atravessaram a rua, caminharam até a beira do rio e fizeram uma oração. Marcos Apurinã, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), foi quem teve a iniciativa de chamar os presentes até a beira do Xingu. “Nós precisamos dele, estamos aqui lutando por ele, mas vamos até lá colocar nossas mãos na água, porque o rio precisa da nossa força também”.

O Acampamento Terra Livre Regional foi organizado pelo ISACoiabConselho Indigenista Missionário (Cimi)Movimento Xingu Vivo para SempreArticulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e contou com o apoio das organizaçõesAmazon WatchInternational RiversAmigos da TerraFunaiMinistério da Saúde.

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