Luto no Xingu Vivo: “O Estado matou meu irmão”

WE BUILD CONNECTIONS WITH ORGANIZATIONS AND COOPERATE WITH SMART PEOPLE ALL OVER THE WORLD

“Eu senti uma impotência ao ver os filhos do meu irmão (Maria Antonia, de quatro anos, e Neymar, de sete) chorando … Neymar não saía de perto do caixão, dizia que só iria sair quando o pai levantasse ….E Maria Antonia dizia ‘tia Daniela, mataram meu pai’ ….nesse momento meu coração sangrava por dentro…”.

A gente lembra do dia em que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) lançou o Atlas da Violência 2017 no Brasil. Foi no início de junho, e toda a imprensa falou nesse assunto, destacando Altamira, a cidade mais violenta do país. Muita gente comentava “olha lá Belo Monte e suas vítimas! Esse é o desenvolvimento que mata”.

A gente sabe que é isso. O desenvolvimento que mata. Mas a gente entende também que existe uma distancia entre os amigos que leem o jornal e se indignam com os números e gráficos, e nós. Porque os que estão morrendo, nós os conhecemos. Não são nomes nem estatísticas, são gente que a gente quer bem, gente nossa.

Daniela é membro da nossa equipe Xingu Vivo. Semana passada, a policia matou seu irmão; bem no dia em que Antonia Melo, nossa coordenadora, recebia um premio internacional de reconhecimento à sua luta à frente do Movimento. A policia matou Cleber, irmão de Daniela, com tiros nas costas. Segundo o delegado, porque “ele tava no lugar errado na hora errada”.

Cleber, antes de Belo Monte, trabalhava como oleiro com o pai. Veio a hidrelétrica e, como quase todos os oleiros, perderam tudo. Trabalho, renda, tudo. A vida virou do avesso para ele, desandou, mas depois de um tempo andou de novo. Cleber casou, teve dois filhos, se firmou, mas o Estado lhe tirou a chance de viver.

Daniela, que concomitante à militância no Xingu Vivo leva seus estudos na UFPA, tem essa clareza. “Meu irmão foi executado pelo Estado,  representado pela policia militar. Sujeito esse que deveria conter a violência, não promovê-la!”

No dia do enterro de Cleber, Dani sentiu muita dor. Uma dor quase só dela, mas que soubemos sentir também. Algo que não dá pra vivenciar lendo o jornal, nem entendendo as estatísticas do Mapa de Violência do IPEA. Sente quem amou a vítima. “O que falar para aquelas crianças? A única coisa que me veio à cabeça foi dizer a eles que o pai estava no céu descansando …e que estava bem….”, escreveu dias depois.

Mas querem saber? Esse Estado, essa polícia, eles não podem com a gente. Diz a Dani: “A cada dia que passa tenho certeza de que somente a luta dos povos unidos e conscientes será capaz de conter essa barbárie ocasionada pelo capital; capital esse que tem nome e endereço: maus políticos, empresas privadas, governos. É tempo de conclamar a esperança em nosso meio…”.

É tempo!

Dani com os sobrinhos Neymar e Maria Antonia

Altamira, 16 de outubro de 2017

Movimento Xingu Vivo para Sempre

 

Deixe um comentário