Indígenas do Médio Xingu protestam contra mudanças na saúde

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Por Eraldo Paulino – Como parte da mobilização nacional convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) contra a extinção da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), dezenas de guerreiros e guerreiras dos povos Arara, Arawete, Kuraia, Juruna, Parakanã, Xikrin e Xipaya interditaram a Transamazônica na região de Altamira, PA, na última quarta, 27. O protesto começou pela manhã, e seguiu com a ocupação do prédio da Funai pela tarde. Além de repudiarem o desmonte da saúde anunciado pelo governo federal, os indígenas também denunciaram uma série de ataques aos seus territórios, como invasões e loteamentos clandestinos, abertura de estradas e desmatamento ilegal.

No último dia 20, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou mudanças na pasta. Dentre elas, a extinção da Sesai e a municipalização do atendimento de saúde aos indígenas. O anúncio contradiz declaração anterior do general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, que, acompanhado pelo presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, esteve em Altamira no início de março. De acordo com Santos Cruz, não haveria alterações na política de saúde indígena. Após a decisão do Ministério da Saúde, o general apenas comentou que as mudanças não afetariam os povos da Amazônia.

A insegurança política causada por diversos descumprimentos de promessas em três meses de governo Bolsonaro são, de fato, motivos para preocupação, afirmam os indígenas. “Mudar a política de saúde indígena é o mesmo que institucionalizar o genocídio de nosso povo, e vamos lutar pra que isso não aconteça”, denuncia Mitã Xipaya, um dos organizadores do evento.

Municipalização inviável

A Secretaria Municipal de Saúde de Altamira alega enfrentar inúmeras dificuldades para atender a demanda do município em função do aumento do adoecimento de populações ribeirinhas e da cidade, causado pela péssima qualidade das águas do Xingu após a construção de Belo Monte. “O SUS não dá conta nem de atender o homem branco, imagina se a gente vem pra esse mesmo sistema? Vai ser prejudicial pra nós e pro próprio homem branco”, avalia Jumara Xipaya. Para ela, tratar da mesma maneira problemas diferentes prejudica os mais vulneráveis.

“Nessa manifestação têm muitos índios velhinhos que lutaram muito pela conquista da Sesai, e agora estão aqui vendo isso ameaçado”, lamenta Luiz Cláudio Teixeira, militante do Movimento Xingu Vivo para Sempre. Na avaliação dele, é positivo na manifestação a presença de povos que, mesmo no ápice da luta contra Belo Monte, não se somaram plenamente às resistências às violações e impactos dos construtores da hidrelétrica.

Ameaça aos territórios

“Desde que Bolsonaro ganhou a eleição que as nossas terras e a de nossos parentes vêm sendo invadidas por madeireiros eleitores dele, que nos ameaçam e ninguém faz nada. A gente conhece o território mais que ele [invasor], a gente poderia lá e matar, mas estamos aqui exigindo que nossos direitos sejam garantidos. Enquanto eles invadem, matam, nós queremos que o governo cumpra a Lei”, argumenta Pyja Xipaya.

Recuo

Apos a mobilização nacional contra a extinção da Sesai no dia 27, lideranças de todo o pais se reuniram em audiência com o ministro da Saude, Luiz Henrique Mandetta, nesta quinta. De acordo com a direção da Apib, houve novo recuo e foi garantida aos indígenas a manutenção da Sesai.

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