Mais de 100 organizações nacionais e internacionais denunciam tentativa de Belo Sun de criminalizar defensores da reforma agrária



Nesta sexta-feira, 16, mais de cem organizações nacionais internacionais publicaram uma carta aberta em apoio aos defensores dos direitos humanos e do meio ambiente que estão sendo criminalizados por se manifestarem contra uma proposta de mina de ouro canadense no coração da Amazônia brasileira. Leia a carta abaixo:
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Em 17 de outubro de 2023, a mineradora Belo Sun Ltda., subsidiária brasileira da empresa canadense Belo Sun Mining Corp., entrou com uma ação penal contra mais de 30 pessoas, a maioria agricultores e agricultoras, que estão reivindicando a anulação do acordo firmado em 2021 entre a mineradora e o Incra por meio do qual o último cedeu à Belo Sun 2.428 hectares de terras públicas, incluindo 21 lotes do Projeto de Assentamento (PA) Ressaca. A cessão de terras é objeto de uma Ação Civil Pública (ACP n. 1001161-22.2022.4.01.3903) interposta em 2022 pelas Defensorias Públicas da União (DPU) e do Estado do Pará (DPE-PA), que demonstra a ilegalidade do contrato e pede a sua anulação. Quase dois anos depois de protocolada, essa ação ainda não teve decisão de mérito.

Além das lideranças locais, também foram incluídos como acusados na queixa-crime da Belo Sun representantes de organizações da sociedade civil e pesquisadores que estão atuando em defesa das comunidades ameaçadas pelo empreendimento. Muitas destas pessoas acusadas de “esbulho possessório” pela mineradora sequer residem no país.

A queixa-crime é uma clara tentativa de silenciamento das pessoas defensoras do meio ambiente e dos direitos humanos, intensificada com a presença da segurança armada da empresa no território. Trata-se também de uma tentativa de criminalização das organizações que monitoram e denunciam a destruição provocada por grandes empreendimentos na Volta Grande do Xingu. No dia 15 de novembro, um grupo de 25 movimentos e organizações locais, baseados sobretudo em Altamira, Pará, lançaram uma Carta aberta de repúdio à criminalização de agricultores, agricultoras, movimentos sociais e organizações da sociedade civil promovida pela mineradora canadense Belo Sun. É preciso que os termos dessa carta sejam fortalecidos e reverberados nacional e internacionalmente. 

Não é a primeira vez que a Belo Sun Mineração Ltda. intimida organizações da sociedade civil e defensores de direitos humanos. Em 2022, a empresa entrou com uma ação contra um professor universitário que havia denunciado os riscos que o Projeto Volta Grande traria para o rio Xingu e seus povos. Já em meados de 2023, a Belo Sun enviou uma notificação extrajudicial à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), numa tentativa de calar as denúncias feitas pela organização indígena acerca dos riscos que oprojeto de mineração na Volta Grande do Xingu representa. A notificação ocorreu logo após o lançamento de uma relatório sobre a Belo Sun lançado pelo jurídico da Articulação e da ação de incidência internacional na ONU em Genebra realizada pela Aliança pela Volta Grande do Xingu, coalizão da qual Apib faz parte, denunciando os abusos corporativos de empresas canadenses na Amazônia brasileira e em mais 8 países da América Latina e do Caribe.

Sobre a atuação da Belo Sun na Volta Grande do Xingu 

A Belo Sun quer instalar um mega empreendimento de mineração de ouro na Volta Grande do Xingu, com o objetivo de operar a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil. O chamado Projeto Volta Grande (PVG), caso aprovado, afetaria de forma substancial e potencialmente irreversível um território já gravemente impactado pela mega-hidrelétrica de Belo Monte, além de impactar as terras e modos de vida tradicionais de diversos povos indígenas, assentamentos rurais e comunidades ribeirinhas que vivem nessa região.

Diversas ações judiciais foram protocoladas registrando as irregularidades cometidas pela Belo Sun, incluindo a ausência de consulta e consentimento livre, prévio e informado das comunidades indígenas e tradicionais afetadas; a aquisição ilegal de lotes dento do PA Ressaca; o constrangimento e violação do direito à livre circulação e acesso ao território das comunidades locais; e a falta de competência do Estado do Pará para emitir a licença ambiental do PVG. O seu licenciamento está suspenso desde 2017 por decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e no dia 11 de setembro de 2023 passou para a competência do Ibama, órgão federal.

Demandas

Nós, cidadãos, cidadãs, organizações da sociedade civil organizada e representantes de movimentos sociais que apoiamos a presente Nota, repudiamos a criminalização promovida pela Belo Sun Mineração Ltda., manifestamos nossa solidariedade com as vítimas desse processo e reforçamos nosso entendimento de que:

  1. A intimidação e criminalização de defensores e defensoras de direitos humanos, ativistas, pesquisadores, e lideranças de movimentos sociais promovida pela Belo Sun é inaceitável, e por isso apoiamos os termos da presente petição;
  2. O Projeto de Assentamento (PA) Ressaca é um território destinado à reforma agrária e à agricultura familiar localizado em uma região já bastante fragilizada do ponto de vista socioambiental, que é incompatível com a instalação de um megaprojeto de mineração de ouro a céu aberto como o Projeto Volta Grande da Belo Sun.
  3. O poder público deve tomar medidas necessárias para que as famílias, comunidades e povos da Volta Grande do Xingu estejam fortalecidos, com efetiva participação na governança e proteção do território.

Signatários:

Brasil:

1. Movimento Xingu Vivo Pará Sempre

2. Pró-Índio de São Paulo

3. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

4. Justiça Global

5. Fundação Montescola

6. Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)

7. Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos Cabo de Santo Agostinho-PE

8. Observatório de Protocolos Comunitários de Consulta e Consentimento Prévio, Livre e Informado

9. Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS

10. CIDHA/UFPA

11. Grupo de Estudos em Educação e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (GEEMA)

12. Rede de ONGs da Mata Atlântica – RMA

13. Rede de Mulheres Ambientalistas da América Latina – Elo Brasil

14. Rede Mato-grossense de Educação Ambiental (REMTEA)

15. Alternativa Terrazul

16. Comitê de Energia Renovável do Semiárido-CERSA

17. Associação Profissional dos Sociólogos do Estado do Rio de Janeiro (APSERJ)

18. Associação de Agricultura Ecológica-AGE

19. Comunema Comissão

20. Observatório da Questão Agrária do Paraná

21. Instituto lar da dona Cláudia

22. Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA)

23. Centro Palmares de Estudos e Assessoria por Direitos

24. Instituto centro de Vida (ICV)

25. Associação de Moradores e Amigos e Porto das Flores MG

26. Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP)

27. Grupo de estudos e pesquisas em educação e território

28. Forum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas cercanias da Baía de Guanabara

29. Movimento de mulheres

30. Prelazia de Lábrea

31. Instituto Eqüit – Gênero, Economia e Cidadania Global

32. Observare Observatório de Educação Ambiental

33. Centro Palmares de Estudos e Assessoria por Direitos

34. CPT/Anapu

35. Instituto Transformance: Cultura & Educação

36. Fórum Bem Viver

37. Coletiva de Mulheres do Xingu

38. Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade.

39. Associação Quilombola do Baixo Caeté (Aquibac)

40. Associação Defesa Direitos Humanos e Meio Ambiente na Amazõnia

41. Agenda 21 – Ilha de Paquetá

42. Iniciativa das Religiões Unidas (URI)

43. Movimento Tapajós Vivo

44. Quartzo Comunicação

45. Sociedade Civil Mamirauá (SCM)

46. Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGG) da Universidade do Estado do Pará (UEPA)

47. Instituto Guaicuy

48. Sodemap Instituto

49. Sociedade, População e Natureza

50. Iedhma – Instituto de Estudos de Direitos Humanos e do Meio Ambiente

51. Articulação Carioca

52. Associação Amigos da Recicriança

53. Gambá

54. GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental

55. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pindaré

56. Rede Cerrado

57. Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB)

Internacional:

58. Earthworks

59. Interamerican Association for Environmental Defense (AIDA)

60. Amazon Watch

61. International Rivers

62. Yes to Life No to Mining

63. Ekō

64. Malach Consulting

65. Pacific Asia Resource Center

66. Fair Mining Collaborative

67. Igapo Project

68. Native Village of Dot Lake, AK

69. Ethical Metalsmiths

70. Black Hills Clean Water

71. Alliance Great Basin Resource Watch

72. Coalition to Save the Menominee River

73. Mining Watch Romania

74. Decolonial Centre

75. No Business With Genocide

76. Direct Action Everywhere

77. Earth Thrive

78. Vivat internacional

79. Coal Action Network

80. EarthRights International

81. France Amérique Latine

82. Comité de solidarité avec les Indiens des Amériques (CSIA-Nitassinan)

83. Tierra y Libertad Para Arauco

84. Asamblea por los bosques y la vida Bolivia

85. MiningWatch Canada

86. Centre international de solidarité ouvrière CISO / Centro internacional de solidaridad obrera

87. Canadian Network on Corporate Accountability (CNCA)

88. Mining Injustice Solidarity Network

89. Atlantic Regional Solidarity Network (ARSN)

90. CoDevelopment Canada (CoDev)

91. Comité pour les droits humains en Amérique Latine (CDHAL)

92. Community Peacemaker Teams – Colombia

93. Journal des Alternatives – une plateforme altermondialiste

94. Réseau international pour l’innovation sociale et écologique (RISE)

95. David Suzuki Foundation

96. Groupe de recherche interdisciplinaire sur les territoires de l’extraction (GRITE)

97. Inter Pares

98. Mining Justice Alliance

99. Circle of Voices

100. Climate Justice Montreal

101. Green 13

102. Grandmothers Advocacy Network (GRAN)

103. Climate Action Network – Réseau action climat Canada

104. Beyond Extraction