Filme sobre Belo Monte é exibido ao público do festival de cinema de Berlim

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Paralelamente à Berlinale, documentarista alemão Martin Kessler mostra o que está acontecendo no canteiro de obras da usina Belo Monte. Diretor traz à plateia europeia a polêmica sobre o projeto brasileiro.

É para o público internacional fixado em cinema, com engajamento político e super cool, que o documentarista alemão Martin Kessler quer mostrar um problema bem brasileiro: a construção da usina Belo Monte ( Deutsche Welle, 15/02/2012).

Ele apresenta nesta quinta-feira (16/02), às margens do festival de cinema de Berlim, uma reportagem especial que fará parte do documentário Count-Down no Xingu parte 2.

As imagens foram feitas no mês passado em cidades às margens do rio Xingu, onde a usina está sendo construída. A corrida agora é para editar a melhor parte do material a tempo de apresentá-lo para a plateia em Berlim.

Mas o que motiva Kessler a trazer para a Alemanha essa discussão em terras tão distantes? “Nós temos tudo a ver com essa questão”, resumiu Kessler, lembrando que há participação alemã na construção da polêmica usina hidrelétrica. “Filmamos as centenas de caminhões da Mercedes Benz que vão transportar a terra que está sendo retirada para construir Belo Monte. E também Siemens e Voith fazem parte da joint venture que irá fornecer as turbinas”, argumentou.

O que era, como está
Um ano após ter filmado a primeira parte de Count-Down no Xingu, o documentarista alemão encontrou um cenário bem diferente na cidade de Altamira, no Pará, e região.

Congestionamentos, muita gente pelas ruas, construção por todos os lados, infraestrutura visivelmente sobrecarregada; descreve Martin Kessler.

Sheila Juruna Machado, uma das líderes da resistência indígena, contou que o movimento enfraqueceu. “Ela disse em depoimento que a Norte Energia e instituições do governo prometeram muito aos indígenas: dinheiro, cestas básica, combustível. Pode-se dizer que os indígenas foram comprados”, detalhou Kessler parte do material filmado no Pará.

Depois de três semanas no Brasil, Kessler voltou à Alemanha com imagens “impressionantes para um público alemão”: as obras da construção do canal, as escavações para desviar o curso do Xingu – “uma movimentação de terra maior do que a realizada para a abertura do Canal do Panamá”.

Também foram entrevistados idealizadores do Movimento Gota D´Água, que contou com participação de atores globais famosos num vídeo de alerta sobre as polêmicas em torno de Belo Monte. “É impressionante que eles tenham conseguido reunir mais de um milhão de assinaturas com essa campanha contra a construção da usina”, comentou Kessler.

Mea Culpa
A versão do documentário feita para o evento em Berlim será exibida no Babylon, sala de cinema no centro da cidade. Paralelamente ao trabalho de edição, Kessler quer atrair o público do festival a assistir sua reportagem feita no Brasil: um convite especial será feito aos espectadores do longa Xingu, do diretor Cao Hamburger, dentro da programação Panorama, exibido um dia antes.

A expectativa do documentarista alemão é provocar o engajamento do público, conhecido também por seu senso crítico aguçado. “Como uma nação orientada para a exportação, precisamos analisar o que produzimos. Somos de fato ecologicamente corretos ou também provocamos destruição no meio ambiente?”, questiona Kessler.

Ele lembra que muitas empresas, como fabricantes de carros, usam a matéria-prima produzida em unidades que serão abastecidas por Belo Monte, como siderúrgicas da região Norte e Nordeste do Brasil. “O alumínio usado para fabricar um carro pode ser produzido a custo de destruição na Amazônia, da expulsão dos índios de suas terras”, diz Kessler sobre o envolvimento alemão com o debate brasileiro.

Para o documentarista, a Alemanha, com seu plano energético baseado em energias renováveis, precisa olhar criticamente para seus fornecedores e cobrar deles também atividades igualmente sustentáveis. “O protesto e oposição no Brasil precisa de apoio internacional. Sozinhos, eles não conseguirão lutar contra esses poderosos: as empresas envolvidas e o governo”.

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