Operários denunciam condições precárias de trabalho e moradia em terceirizada da Norte Energia

WE BUILD CONNECTIONS WITH ORGANIZATIONS AND COOPERATE WITH SMART PEOPLE ALL OVER THE WORLD

Desvio de função, alojamentos superlotados e insalubres,  e falta de comprovação nos pagamentos de horas extras são as principais queixas. Trabalhador que fez denúncia foi demitido.

Por Larissa Saud

DSC04387

Banheiros imundos, corredores sem iluminação e cheiro de comida azeda por todos os lados. Esta tem sido a situação de um dos alojamentos da GEL Engenharia, localizado no bairro Independente I, Altamira, Pará. A empresa é contratada pelo Consórcio Norte Energia para realizar as obras de saneamento básico na cidade, condicionante para a construção da hidrelétrica de Belo Monte.

Após denuncia anônima recebida há menos de um mês, a equipe do Xingu Vivo foi até um dos alojamentos da GEL, onde encontrou um cenário desolador: os cerca de 50 trabalhadores dividiam-se em quatro quartos, abarrotados de beliches, ventiladores e varais de roupa, estendidos sobre as camas. Os dormitórios, muito abafados e com pouca entrada de ar, não tinham armários para guardar os pertences pessoais dos operários, havia fios soltos e gambiarras ligando eletrodomésticos, e nenhuma segurança em caso de incêndio ou outro acidente.

Logo na chegada da equipe, alguns trabalhadores correram apressados falando ao mesmo tempo várias frases soltas, como “não tem copo descartável, nem papel higiênico” ou “olha o chão como está”, apontando para um cômodo completamente alagado. “Olha a política de gestão da GEL. Só cobrança e nada de respeito”,  disse um dos operários apontando para a parede do refeitório, onde haviam três banners com as normas que devem ser seguidas pelos funcionários.

DSC04392 Segundo os trabalhadores, a empresa não tem feito a  manutenção nos alojamentos e destrata funcionários quando há reclamações. Também denunciaram que várias vezes durante a semana a comida chega estragada, fazendo com que muitos fiquem sem comer ou passem mal nos horários de trabalho.

Nordestino do interior de Sergipe, Thiers Nunes decidiu não se esconder ao fazer as denúncias, já desconfiando de demissão. Contratado como servente, foi obrigado a trabalhar como pedreiro e carpinteiro, o que configura desvio de função. O problema é muito comum na GEL, explica. “A gente cava valas de 100 metros a 120 metros na pá e na enxada não tem suporte de uma retro. Olha minha mão como tá. Muita gente está na mesma situação, tudo fazendo coisa para a qual não foi contratada”, diz Thiers mostrando as mãos calejadas.

Grande parte dos trabalhadores do alojamento vieram de Sergipe ou do Maranhão, todos contratados por agenciadores, geralmente para trabalhar em Belo Monte. “Chegamos aqui, não tinha vaga no canteiro, fomos parar na GEL”, conta um sergipano. Ele não sabe dizer se os agenciadores têm licença para contratação e transporte em outros estados –  conforme previsto na Instrução Normativa 90 do Ministério do Trabalho e Emprego -, mas afirma que pelo menos todos os trabalhadores têm carteira. “Mas acontece que a gente não recebe o holerite no fim do mês pra saber se estão pagando as horas extras como devem, se estão pagando FGTS, essas coisas. Eu mesmo só recebi uma vez o holerite em seis meses que trabalho aqui”, explica um maranhense.

GEL desmente, mas demite
Procurado pela reportagem, o engenheiro superior da GEL engenharia em Altamira, Luis Eustáquio, negou as acusações dos trabalhadores e disse que a empresa oferece todas  as condições necessárias nos alojamentos. “A gente oferece lavagem de roupa. Tem lazer nos alojamentos, piscina, totó, ping-pong. Tem copo descartável e roupa de cama o tempo inteiro”, afirma. Para comprovar sua afirmação, a GEL levou a reportagem a outro alojamento, onde as condições realmente eram bem melhores. Cientes da visita ao alojamento denunciado, porém, funcionários da empresa insistiram com a reportagem para que fosse apontado o autor das denúncias. Mesmo tendo negado estas informações, a reportagem recebeu a confirmação, dias depois, que Thiers Nunes havia sido demitido.

Doze dias após a primeira visita ao alojamento, no final de março a reportagem do Xingu Vivo voltou ao local ao ser avisada que 50 novos operários estariam sendo levados para lá. Apesar de não verificar superlotação acima da visível anteriormente, foram constatadas as mesmas condições de insalubridade e nenhuma melhora nas condições do alojamento e do trabalho.

 Colaboração e fotos de Verena Glass

Assista ao vídeo gravado na primeira visita

Deixe um comentário