Scroll Top

Garimpeiros armados ameaçam assentados no Tapajós

WE BUILD CONNECTIONS WITH ORGANIZATIONS AND COOPERATE WITH SMART PEOPLE ALL OVER THE WORLD

Um grupo de garimpeiros armados ameaçou nesta quinta, 28, ribeirinhos e assentados do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Montanha e Mangabal, localizado no município de Itaituba, no Pará. As comunidades do PAE, localizado às margens do rio Tapajós, foram uma das forças de oposição à construção da hidrelétrica de São Luis do Tapajós e têm sido sistematicamente acuados por garimpeiros, madeireiros e outros invasores que exploram ilegalmente recursos naturais na região. “Os garimpeiros estão revoltados. Ameaçaram todo mundo, armados”, denuncia um ribeirinho.

Descumprindo veto judicial a “quaisquer ato possessório na área de ocupação da população tradicional de Mangabal e Montanha”, de acordo com os ribeirinhos um grupo numeroso de garimpeiros chegou na beira de um igarapé, dentro dessa área, e ameaçou com violência os moradores. Eles “levaram bala, levaram tudo”, denunciaram.

Montanha e Mangabal passou recentemente por um processo de autodemarcação por parte de seus moradores, iniciativa que buscou proteger a área da exploração predatória e da violência. Procurado duas vezes por representantes das comunidades para tratar da situação das invasões, o superintendente do Incra em Santarém, Mário Costa, deu apenas respostas evasivas, não se comprometendo a tomar uma atitude efetiva em relação à escalada da tensão no local.

Tendo as suas casas separadas umas das outras em sua maioria por cerca de 20 minutos de navegação, e contando apenas com dois ou três rádios em mais de 70 quilômetros de margens do Tapajós, os ribeirinhos de Montanha e Mangabal encontram-se em uma situação alarmante. Ainda nesta quinta, acionaram o Ministério Público Federal pedindo medidas urgentes de proteção.

Escalada das tensões e descaso do Incra

Autodemarcação reforçou a prosse da área pelas comunidades de Montanha Mangabal


Montanha e Mangabal é ocupada por ribeirinhos há mais de 140 anos, mas só foi reconhecida como território tradicional pelo Incra em 2013 – em meio à iminência de se construir na região uma das usinas hidrelétricas (UHEs) do Complexo do Tapajós. As tensões relativas à construção da UHE é mais um dos diversos focos de pressão sobre o território e a vida dos ribeirinhos, somando-se à histórica exploração predatória e intimidação de grileiros, garimpeiros, madeireiros e outros.

Buscando construir vias de proteger a área e as famílias do assentamento, os ribeirinhos realizaram, na primeira quinzena de setembro, a autodemarcação e sinalização dos limites de Montanha e Mangabal. Para isso, contaram com o trabalho de 26 indígenas, dos povos Munduruku e Sateré Mawé, entre outros apoiadores. “Nós fazemos a autodemarcação para eles [invasores]  saberem o local, onde é a parte deles e a parte nossa. Porque sempre tem aquele modo de a pessoa alegar ‘não, eu não sei onde é minha parte, meu terreno’”, afirmou um morador do assentamento durante as atividades demarcatórias.

Apenas dois dias depois do início das atividades, os ribeirinhos e indígenas se depararam com invasores que exploravam palmito e madeira no interior do território de Mangabal (ver foto). Tratava-se de um grupo de pessoas conhecidas na região como “os baianos”, que há extraem palmito e madeira da reunião há muito tempo, e saiam, naquele momento, de um ramal com um caminhão. Esses logo perguntaram o que estavam fazendo em “suas terras, sem avisá-los”, tentando claramente intimidar os indígenas e ribeirinhos. Buscando evitar conflitos, os ribeirinhos foram até a casa dos “baianos” para explicar que estavam fazendo a autodemarcação, seguindo o seu direito ao uso do seu território, seguindo a base cartográfica do Incra. Na conversa, registrada em vídeo pela produtora Pindorama e em áudio pelos apoiadores, em que havia um clima de tensão explícito, os “Baianos” afirmam não aceitarem os limites do assentamento e desconfiaram que a base cartográfica usada na demarcação está errada. Alguns dias após o episódio, os ribeirinhos sofreram novas ameaças, relatadas acima, dessa vez partindo de garimpeiros que tentam avançar com a exploração ilegal de ouro em áreas ocupadas pela comunidade.

Lideranças de Montanha e Mangabal procuraram Mário Costa, superintendente do Incra em Santarém, para falar das crescentes ameaças e entregar documentos relativos ao trabalho de autodemarcação. Apesar dos apelos sobre a gravidade da situação, Costa mostrou-se pouco preocupado, sem oferecer qualquer solução aos ribeirinhos. O superintendente chamou recentemente a atenção da imprensa por ter sido colocado no cargo por seu irmão, o deputado Wladimir Costa (SD-PA), famoso por seu apoio a Temer e recentemente acusado pelo Ministério Público do Estado do Pará de desviar R$ 230 mil dos cofres públicos.

 

Deixe um comentário