Assassinada há 15 anos, Dorothy Stang segue inspirando resistencias em Anapu

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Nesta quarta, 12 de fevereiro, completaram-se 15 anos do assassinato da Irmã Dorothy Stang, contratado por um consórcio de fazendeiros que atuavam na grilagem de terras da reforma agrária no município de Anapu, PA.

No local onde seu corpo foi enterrado, o Centro São Rafael, onde morou por muito tempo, dezenas de amigos, a maioria moradores dos PDS (Projetos de Desenvolvimento Sustentável, idealizados por ela), dos travessões e das comunidades rurais de Anapu, se encontraram para uma homenagem e uma missa rezada pelo bispo da Diocese do Xingu, Dom João Muniz Alves.

“Dorothy Stang chegou nessa região junto com as obras de abertura da Transamazônica”, lembra Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre. “Quando chegou no Pará ainda na década de 70, essa mulher de fibra escolheu o município mais pobre da região. O bispo perguntou ‘Dorothy, onde você quer trabalhar?’ e ela respondeu ‘Anapu, quero ficar em Anapu’. Aqui ela acolheu centenas de família de migrantes nordestinos, principalmente vindos do Maranhão, expulsos pela violência dos latifundiários e do poder econômico, que eles chamavam “a Turma do Sarney”. Acolheu todo mundo, lutou junto às autoridades e órgãos competentes, como Incra e Ibama, para que esse enorme território, ainda coberto de mata, tivesse um pedacinho para cada agricultor sem terra”, conta Antonia Melo.

Outra grande contribuição de Dorothy para a região foi a organização das mulheres do Anapu, que se espalhou pela Transamazônica e Xingu, explica a coordenadora do Xingu Vivo. “Em 1996 eu estava exatamente aqui, no Centro São Rafael, onde Dorothy tinha uma casinha. E nós nos reunimos, de todos os municípios da região, com a representante do MMCC (Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade) do Pará, e fizemos um planejamento coletivo da luta das mulheres, do combate à violência doméstica, à grilagem de terra, às ameaças do latifúndio e na luta pela saúde. A gente vinha remando as nossas canoas, atravessando o rio porque na época não tinha ponte, a e aqui a gente passou três dias discutindo, cantando e também rezando para que as nossas lutas fossem vitoriosas”.

Dorothy Stang também foi uma das principais articuladoras das Comunidades Eclesiais de Base junto à então Prelazia do Xingu, em parceria com o então bispo Dom Erwin Kreutler – que vive com proteção policial há mais de 10 anos em função das ameaças de morte contra ele. “Para nós, Dorothy ainda vive, e junto com ela todos os agricultores e agricultoras que foram assassinados nos conflitos de terra pela violência dos grileiros e gananciosos; com todos aqueles e aquelas que estão ameaçados por apoiadores desse governo que só pensa em acabar com a nossa Amazônia e nada de bom, nada de vida, nada de próspero quer deixar para o nosso povo. Mas nós, junto com Dorothy e outros que tombaram na luta, como Dema, Brasília, Zé Claudio e Maria, Chico Mendes, com eles a gente segue lutando na devesa dos nossos povos, das nossas matas e da nossa vida”, diz Antonia.

Enfrentando a morte
Erasmo Alves Teófilo, presidente da Cooperativa dos Agricultores da Volta Grande do Xingu (COOPEVAX), da Associação dos Moradores do Flamingo Sul, no km 80 da Transamazônica, e representante das comunidades dos lotes 96 e 97 da Gleba Bacajá, no interior de Anapu, voltou recentemente à região depois de ser afastado em função de ameaças de morte. Inspira pela luta da Irmã Dorothy, Erasmo, que teve a casa atacada por um pistoleiro no final de 2019, tem uma certeza: “Não quero ser mais uma vítima deste conflito agrário!”, diz, na frente do túmulo da amiga.

“Faz 15 anos que Dorothy foi assassinada por grileiros da região. E hoje sou eu o ameaçado, porque defendo o mesmo interesse, o das pessoas pobres, dos que lutam por um pedaço de terra; aqueles que tudo que querem é só um pedacinho de terra para poder morar, trabalhar e preservar”.

Veja o depoimento abaixo:

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