Ibama mobiliza força tarefa para retirar gado ilegal de área cedida por Belo Sun a fazendeiros



Agentes do Ibama acompanharam Comissão que recebeu denúncias de violações no PA Ressaca (foto: Verena Glass)

Na última semana de maio, logo após a passagem da Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo pelo assentamento PA Ressaca, na Volta Grande do Xingu, no Pará, o Ibama fez uma operação na região contra a presença de gado ilegal em áreas cedidas pelo Incra à mineradora Belo Sun.

A Comissão, composta por diversos Ministérios e órgãos federais, como o Ibama, esteve na região no dia 20 de maio para registrar denúncias de violações ligadas à mineradora canadense, que pretende construir sobre parte do assentamento a maior mina de ouro a céu aberto do país.  

De acordo com assentados do PA Ressaca e famílias de sem-terra que estão acampadas na área, um dos principais problemas que têm enfrentado para produzir alimentos é a presença de gado clandestino, que, solto, tem destruído as roças dos agricultores.

Após as denúncias à Comissão, a equipe de fiscalização do Ibama da base de operação Ehara Tapiro, que desde o ano passado têm retirado centenas de cabeças de gado criado ilegalmente na Terra Indígena (TI) Ituna Itatá, adjacente ao PA Ressaca, mobilizou uma força-tarefa para investigar a situação no assentamento.

Gado é retirado da TI Ituna Itatá (foto: divulgação Ibama)

De acordo com o coordenador da operação, Givanildo dos Santos Lima, os agentes do Ibama levantaram a informação de que Belo Sun teria arrendado a área cedida à mineradora pelo Incra (em acordo questionado na Justiça pelas Defensorias Públicas da União e do Pará, além do Ministério Público Federal) para os fazendeiros que que foram expulsos da TI pela Operação Ehara Tapiri. “Os invasores da Ituna Itatá começaram a tirar o gado ilegal às pressas da terra dos indígenas depois da operação do Ibama, e colocaram na área da Belo Sun porque estavam precisando de pasto. Isso é ilegal porque esta área não está destinada à criação de gado. Para isso, precisariam de uma licença da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará). Pelo que soubemos, a mineradora fez um acordo de arrendamento com os fazendeiros. Quem cuidava do gado era um senhor chamado Albino, que havia vendido sua terra para a Belo Sun”.

Assim que os fazendeiros tomaram conhecimento da presença da Comissão no território, no entanto, houve um movimento intenso de retirada do gado ilegal da área da mineradora, relata Lima. “Tanto que o Ibama encontrou poucas cabeças no local. Ao que parece, os fazendeiros estão levando os bois para outras áreas no próprio assentamento”.

Caminhão de gado cruza PA Ressaca em frente ao acampamento Nova Aliança (foto: Ana Laíde Barbosa)

De acordo com os agricultores do Acampamento Nova Aliança, no PA Ressaca, dezenas de caminhões carregados de boi têm passado pela estrada que corta o assentamento desde o início da operação do Ibama. “Esperamos que o gado realmente esteja sendo retirado de lá. Se isso ocorrer, podemos considerar um saldo positivo da missão da Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo. O Ibama só teve notícia do que estava acontecendo lá porque acompanhou as denúncias dos agricultores à Comissão, e por isso resolveu agir. Nós, do Movimento Xingu Vivo, que articulamos a vinda da Comissão para região, achamos bastante positiva esta primeira ação frente às denúncias, e vamos seguir atentos às movimentações na região ”, afirma Ana Barbosa, do Xingu Vivo.