O Procurador da República Felício Pontes Jr., do MPF do Pará, participou em 9 de novembro do primeiro Chat Xingu Vivo, um espaço de interação virtual e em tempo real onde especialistas envolvidos com o processo de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Durante pouco mais de uma hora, o bate-papo com Felício contou com a participação de mais de 80 pessoas de cinco Estados brasileiros e também de outros países.
Responsável por várias ações civis movidas contra o governo para tentar barrar Belo Monte, a atuação de Felício junto às comunidades indígenas, ribeirinhas e à população de Altamira é uma das principais armas para impedir que o projeto atual, cheio de irregularidades e atropelos da legislação, continue a ser levado à frente sob a anuência do Ibama. Entre o público da conversa virtual estavam moradores da região, membros da tribo dos Kayapós, internautas, tuiteiros e jornalistas. As perguntas mais frequentes se referiam às reais chances de impedir a barragem do Rio Xingu e como promover a conscientização e a mobilização da sociedade local, brasileira e internacional em torno ao problema.
Leia abaixo as perguntas respondidas pelo Procurador. Devido à grande demanda por informação, as cerca de 15 perguntas que ficaram sem resposta já foram encaminhadas ao Procurador e suas respostas serão publicadas em breve no site do Movimento Xingu Vivo para Sempre. Você pode ler aqui o chat na íntegra.
Letyara: Onde eu posso acessar o EIA/RIMA do empreendimento?
Equipe Xingu Vivo: Olá Letyara, você pode encontrar o EIA/RIMA nesse link: https://xinguvivo.org.br/2010/10/14/o-projeto/
Capellossi: quais as construtoras envolvidas na licitação, se é que houve licitação? as de sempre?
Equipe Xingu Vivo: Olá Capellossi, o Procurador Felício Pontes Jr. estará aqui em breve para responder as dúvidas. Mas por enquanto podemos adiantar que o Consórcio Norte Energia se desfez em parte após a licitação (algumas empresas desistiram do projeto), e a lista final de empresas não foi divulgada.
Felício Pontes Jr: Sobre as empresas envolvidas no projeto a única certeza que a gente tem é que as construtoras que iriam ter posição de destaque no empreendimento desistiram dele e algumas passaram a ser apenas contratadas para a execução da obra civil. Ou seja, vão ganhar pelo trabalho executado independente da geração de energia, se livrando de todos os riscos do empreendimento.
Carlos Tautz: Boa tarde , Felício. Depois da atuação do gov em Jirau, Sto Antônio e B. Monte, já se pode dizer que o governo está criando uma espécie de nova institucionalidade ambiental no Brasil?
Felício Pontes Jr: Olá Carlos Tautz, boa tarde. É claro que sim, aliás, eles estão tentando criar essa nova institucionalidade ambiental. Parece que as regras do jogo não favorecem àqueles que querem ludibriar a sociedade brasileira. E olha que essas regras, em sua maioria, são formalidades apenas.
Capellossi: Alem dos povos indigenas, temos ribeirinhos, seringueiros, quilombolas e outras organizacoes sociais. quais planos concretos para coloca-los em evidência e dar-lhes a voz que lhes pertence?
Felício Pontes Jr: Olá Capellossi. O Ministério Público Federal vem lutando na Justiça exatamente para dar voz a essas populações. O desrespeito aos direitos de indígenas, ribeirinhos e seringueiros é algo muito grave nesses “novos” empreendimentos desenvolvimentistas na Amazônia. As 9 ações propostas pelo MPF somente no caso de Belo Monte mostram a preocupação que temos com essa questão.
Tarcísio Feitosa: Vou aproveitar o momento e apontar outras questões: com a suposta construção dessa barragem muita gente se deslocará ate a região, isso pode ocorrer uma ocupação de várias áreas de florestas que ainda estão sem proteção. Como no caso da região do Bacajaí, do suspenso PDS Itatá, da região entre a Transmazônica e o Rio Amazonas, a região do Macapixi, últimos bolsões de florestas que correm o risco de desaparecer, isso é uma ameaça muito grande, pois poderá aumentar as emissões de GEE, o que se pode fazer quanto essas ameaças?
Felício Pontes Jr: Tarcísio, meu brother, bem-vindo! Sabes bem que essa é a crônica de uma morte anunciada. O que me revolta mais nesse caso de Belo Monte é que as condicionantes conseguiram mostrar parte das consequências desse projeto sobre a floresta e a população indígena, e ainda assim o governo fala em editar uma licença de instalação sem que qualquer condicionante seja cumprida.
Christiane: procurador, temos acompanhado que muitas das condicionantes impostas para justificar o licenciamento de belo monte não estão sendo cumpridas… isso pode ajudar de alguma forma a reverter essa história? é possível ainda pensar que a construção de belo monte pode ser impedida?
Felício Pontes Jr: Olá Christiane. Não me passa pela cabeça que Belo Monte seja um fato consumado. Ainda há muita água a rolar pelo Xingu, antes que o governo consiga barrá-lo. O descumprimento das condicionantes demonstra que, apesar do discurso de que Belo Monte é um empreendimento diferente e moderno, novamente, como em Tucuruí, o governo cria facilidades para o empreendor e deixa as dificuldades se acumulares para o povo do Xingu.
Kaiapó em Belém: Existe alguma possibilidade de obrigar o governo a buscar fontes alternativas de geração de energia?
Felício Pontes Jr: Kaiapó de Belém: uma das nossas ações judiciais dizia exatamente que não houve o estudo de fontes alternativas de energia para que se chegasse ao mesmo potencial de Belo Monte. Temos informação de que a mesma quantidade e até mais seria gerada, por exemplo, com o simples investimento em melhoria nas linhas de transmissão do país. Aguardamos que a Justiça se pronuncie a respeito.
Adriana Ramos: Como fica a questão da viabilidade econômica da obra, há algum espaço legal para questionamento, face a tantos benefícios instituídos pelo governo ?
Felício Pontes Jr: Olá Adriana Ramos. Esse é um dos pontos que mais nos preocupa no momento quanto à Belo Monte. A questão da viabilidade econômica não foi esclarecida. O MPF tem o compromisso de mostrar à Justiça e à sociedade as informações que recebemos de universidades brasileiras, comprovando a inviabilidade econômica de Belo Monte.
Capellossi: creio q estes aspectos juridicos q menciona se discute aqui, mas o que esta sendo feito lá, nas terras atingidas pelo projeto ou pela usina, como queiram?
Felício Pontes Jr: Capellossi, tivemos há pouco tempo reuniões na Volta Grande do Xingu. Pode ter certeza de que as pessoas na região têm as mesmas preocupações que vocês trazem, por exemplo, para esse chat. Para eles o medo é muito concreto e as perguntas até mais profundas.
Capellossi: sabemos q a historia se repete, por isso estamos aqui. O MP e seus aliados sao de fato capazes de mobilizar os povos do xingu para que eles tomem iniciativas concretas contra belo monte?
Felício Pontes Jr: Capellossi, o papel do MPF não é mais importante do que o papel da sociedade civil. O caso de Belo Monte é paradigmático. Todas as ações judiciais foram antecedidas de manifestações públicas na região de Altamira, portanto, não cabe ao MPF o papel de protagonista. Cumprimos a obrigação de levar as demandas da sociedade à Justiça.
Karina Miotto: Dr Felício, quais são as chances de vermos, em breve, a liberação de uma licença de instalação provisória para belo monte, mesmo que as condicionantes não tenham sido cumpridas?
Felício Pontes Jr: Oi Karina. Em resposta a sua pergunta, vou te dar uma notícia em primeira mão. Enviamos hoje ao Ibama uma recomendação para que não emita, de forma alguma, essa licença parcial, fragmentada, para canteiros, como quer que chamem. Simplesmente porque não há previsão disso na legislação ambiental brasileira. Esperamos que o Ibama atenda à nossa recomendação.
Samuel: Dr Felicio, em que fase processual estão as ACPs? Quais são os seus objetos?
Felício Pontes Jr: Olá Samuel, quanto às ACPS, ajuizamos nove ao todo, cada uma em fase diferente do projeto e os temas são diversos. Você pode conhecer todas elas no site do MPF no Pará (www.prpa.mpf.gov.br). Mas temos expectativa de que pelo menos três delas possam ter decisões de mérito ainda em 2010.
Andréa Oliveira: Gostaria de saber qual sua opinião acerca da responsabilidade civil por dano ambiental futuro? Uma nova tese que vem sendo defendida por Délton Winter de Carvalho -RS, ao relacioná-la com o Belo Monte. Obrigada
Felício Pontes Jr: Olá Andréa Oliveira, extremamente interessante. É bem possível que vamos tratar dessa questão da responsabilidade por dano ambiental futuro em nosso acompanhamento de Belo Monte. É óbvio que o governo pode ser responsabilizado a partir do momento em que ignora sistematicamente alertas de danos irreversíveis que vêm sendo dados no caso de Belo Monte por cientistas renomados.
Lia Rangel: Quais são as condicionantes?
Christiane: Mas o não cumprimento das condicionantes impede a emissão da licença de instalação?
Equipe Xingu Vivo: Temos um texto publicado no site sobre as condicionantes: https://xinguvivo.org.br/2010/10/23/condicionantes-nenhuma-obra-para-saneamento-e-saude-saiu-do-papel/
Felício Pontes Jr: Olá Lia Rangel e Christiane. Quanto às condicionantes, são 40. Nenhuma delas saiu da estaca zero até agora. E o não cumprimento de qualquer uma das condicionantes impede a edição de Licença de Instalação. É sobre isso que estamos alertando o Ibama.
Suzana Belo: Excelentíssimo, o sr. acredita que ficará mais fácil dialogar com a nova presidente Dilma Rousseff, que alguns cientistas políticos dizem ser mais apropiada para discutir questões ambientais ou com o presidente Lula, que é favorável a Belo Monte?
Capellossi: aproveitando o gancho da pergunta, quem vai resolver isso, o Lula ou Ela?
Felício Pontes Jr: Suzana Belo, em relação às eleições, a situação ganhou. Ou seja, nada muda nesse aspecto. Nós temos obrigação, de fazer cumprir as leis, seja qual for o governante, seja por negociação ou através da Justiça.
Letyara: E qual a posição dessas Universidades, está havendo mibilização dentro das Universidadse em todo o país?
Felício Pontes Jr: Oi Letyara. Belo Monte vem sendo escolhida como assunto de dissertações, pesquisas e até teses de doutorado nas universidades brasileiras. Também é tema de muitos debates públicos. E foi objeto de uma mobilização nacional de cientistas, que se reuniram no Painel de Especialistas. O problema é que os alertas e críticas da comunidade científica não encontram resposta. O governo insiste em ignorar o que falam os acadêmicos.
Guest: Olá, Felicio! Sobre as alterações no projeto feitas depois do leilão. Como o MPF vê isso?
Felício Pontes Jr: Guest e outros, quanto à essa “imagem” internacional do Brasil no que diz respeito à Amazônia, posso afirmar para vocês que a incoerência chega a me revoltar. Uma coisa é o discurso lá fora, outra é a prática aqui dentro.
Brent: Felicio, Várias liminares concedidas a favor de ACPs do MPF-PA pelo Juiz Campelo (quando estava em Altamira) foram derrubadas pelo Presidente do TRF1, sem considerar o mérito das ações, utilizando o artificio da “suspensão de segurança”. O que pode ser feito para acabar com essa prática que, na realidade, pode inviabilizar o funcionamento do judiciário?
Felício Pontes Jr: Olá Brent. O nosso código de processo civil infelizmente, prevê esse tipo de manobras jurídicas que atrasam a solução de questões fundamentais como essa. A reforma desse código é uma das urgências da Justiça brasileira.
Wilson Soares (Altamira): No meu ponto de vista, Belo Monte, mais cedo ou mais tarde se tornará uma necessidade para o país. Agora, eu me pergunto: o ministério público federal, como representante legitimo da sociedade, ao invés de ficar discutindo e falando em meio ambiente que vai alagar isso e aqui, por quê não se preocupar mais em discutir junto a sociedade, melhorias para a região? Como: infra-estrutura, educação, saúde ou seja, juntar-se ao povo principalmente aqueles menos favorecidos com o projeto?
Felício Pontes Jr: Wilson Soares, sua preocupação também é nossa. Quando nos reunimos com as lideranças políticas e empresariais em Altamira estamos enfatizando a necessidade de que venham melhorias para os municípios afetados. É o contrário do que o governo vem fazendo até agora: as facilidades são todas para o empreendimento e as promessas de melhorias não saem do papel.
Luciano Costa – São Paulo: Se o empreendimento não é viável, porque há empresas interessadas nele? O consórcio vencedor tem muitos sócios. E mesmo o consórcio perdedor, que chegou a dar lance no leilão, tinha entre seus membros a Andrade, acostumada com grandes obras.
Felício Pontes Jr: Luciano, nos parece que o comentário anterior da Adriana, sobre as isenções e o fato de que o BNDES vai financiar 80% da obra a juros menores do que os de mercado talvez sejam a resposta à sua pergunta
Adriana Ramos: Prezado Wilson, uma das questões problemáticas do próprio projeto de Belo Monte é exatamente promover um maior fluxo de pessoas para uma região já tão carente de infra-estrutura. Com um projeto pensado há tanto tempo já deveriam ter havido investimentos para melhorar as condições da cidade de Altamira para receber o contingente de trabalhadores de Belo Monte, não é ?
Felício Pontes Jr: Adriana, bem lembrado. A atração de migrantes para a região é uma equação que não fecha. O próprio projeto prevê 100 mil pessoas a mais só em Altamira e, ao mesmo tempo, geração de 20 mil empregos apenas no terceiro ano da obra. Depois, tudo volta ao patamar de 4 mil empregos. O que vai acontecer com essa mão-de-obra excedente? E como os serviços públicos evitam um colapso se nenhum investimento prévio está sendo feito? São perguntas para o Ibama e o governo responderem o mais rápido possível.
Wilson Soares (Atm-PA): Obrigado, Equipe Xingu Vivo. Obrigado, Procurador. Estamos em Altamira. Somos parte dos interessados em saber a viabilidade do projeto. Há 40 anos, fizeram a Transamazônica, conhecida por sua intrafegabilidade durante o inverno e a poeira no verão. Famílias, inclusive a minha, vieram para cá em busca de melhorias. Há 40 anos esperamos. Acreditamos novamente que com Belo Monte, isso ocorra. Em relação a Rodovia BR-230, a Transamazônica (asfaltamento) e quanto a Belo Monte, o que podemos esperar a curto e médio prazo?
Felício Pontes Jr: Wilson, bem objetivamente, tenho que concordar com a Norte Energia: Belo Monte não irá resolver os problemas e vai criar muitos outros.
TV Record News Altamira: Boa tarde, procurador. Acabamos de saber da sua recomendação ao Ibama para que não emita a licença prévia para os canteiros. Entretanto, já se observa na região um alto fluxo de pessoas vindas de outros Estados. E agora? Altamira não tem estrutura para receber, seja na saúde, educação, transporte, enfim, esse êxodo que está acontecendo. E agora?
TV Record News Altamira: Outra informação relacionada a Belo Monte e seus impactos sociais. A saúde na região é atendida por um hospital regional, que tem que atender cerca de 300 mil pessoas da região. Há quatro meses, o aparelho de tomografia está quebrado, por falta de peças. Os de hemodiálise também. Com isso, várias vidas se foram. O que o Ministério Público pode fazer para melhorar a saúde da Região caso Belo Monte ocorra?
Felício Pontes Jr: Olá equipe da TV RecordNews em Altamira. Uma das maiores preocupações nossa é em relação à saúde. O MPF reuniu com os secretários de saúde da região. Está tudo parado, nenhum investimento para evitar esses impactos foi iniciado. E por conta disso, o MPF recomendou ao Ibama que não conceda novas licenças enquanto não resolver a questão da saúde, que está prevista nas condicionantes.
Luciano Costa – São Paulo: A Norte Energia alega que as condicionantes da licença prévia serão cumpridas ao longo da construção da usina e que é impossível cumpri-las antes e em curto prazo. Como você vê esse argumento?
Felício Pontes Jr: Luciano Costa, muito importante a sua pergunta. Porque o discurso da Norte Energia evidencia uma disposição preocupante dos empreendedores: nenhuma melhoria para a população é possível a curto prazo, mas as licenças devem sair em curtíssimo prazo. Não podemos aceitar isso.
Telma Monteiro: Mas melhorar os municípios não é o papel do estado? Nós pagamos impostos. Precisamos construir hidrelétricas na Amazônia para que a sociedade veja respeitados os seus direitos à saúde, saneamento, água tratada, educação?
Felício Pontes Jr: Oi Telma. Eu vejo da mesma forma que vocês, quando acionaram a Justiça por causa de mudanças nos projetos do rio Madeira. O que precisamos ter claro, no caso do Xingu, é o impacto dessas mudanças para tomarmos alguma medida.
Michelle (Belém): O plano de desenvolvimento sustentável para o Xingu, que leva em consideração os impactos causados pela construção da belo monte, ainda seria pouco para a mitigação dos impactos? qual é o seu ponto de vista diante deste plano?
Felício Pontes Jr: Michelle de Belém: você tocou num assunto crucial. Esse plano não teve a participação da sociedade civil e até os empresários de Altamira e da região se sentiram ofendidos pela falta de participação e recusaram comparecer à assinatura do plano.
Verena: Apenas para conhecimento geral, ontem (08) foram enviadas dez notificações extrajudiciais por organizações da sociedade civil a bancos e fundos de investimento alertando que quem financiar a obra será coresponsabilizado por impactos sociais e ambientais
Capellossi/SP: Verena, quem enviou?
Jornal da Energia: Verena, você pode nos dizer para que fundos e bancos foram enviadas as notificações?
Verena: Capelossi, as notificações ao9s bancos foram via Amigos da Terra, Movimento Xingu Vivo para Sempre e Isa, entre outros
Verena (SP): Pessoal do Jornal da Energia, os bancos notificados sobre riscos de financiamento a BM são Bradesco, Itaú Unibanco, BES Investimento, Santander, CEF, BASA, BNB, HSBC e Banco Votorantim, e aos fundos FNE /FNO. Em setembro, as ONGs já haviam notificado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil.
Gabi Juns: Há alguma ação da sociedade civil (como colheita de assinaturas) que pode ser feita para impedir o avanço de Belo Monte? Algo como o caso do Ficha Limpa…
Verena (SP): Gabi, no site mesmo tem um link para assinatura de uma petição contra Belo Monte, http://salsa.democracyinaction.org/o/2486/o/2486/l/por/p/dia/action/public/?action_KEY=4772
Felício Pontes Jr: Gabi Juns, seria muito importante que todo mundo visse o vídeo, assinasse a petição e se mobilizasse sobre Belo Monte. O caso da Ficha Limpa demonstra que a população tem sim poder de pressão sobre o poder público. Belo Monte poderia ser um ponto de mudança no modo como o governo trata as questões ambientais.
Tarcísio Feitosa de Belém: Felício, volto a questão de acionar instancias internacionais sobre a questão de Belo Monte, os argumentos são fortes, no Xingu estamos diante de 26 milhões de hectares de floresta protegia, de 8 línguas indígenas diferentes, vários povos em tempo de contato diferentes, há alguma possibilidade do MPF tentar uma ação no nível internacional?
Leo: Dr Felicio, tem como questionar isto em cortes internacionais?
Felício Pontes Jr: Leo, as cortes internacionais são acionadas após se esgotarem todos os recursos no Brasil. Das 9 ações do MPF, temos apenas 1 que transitou em julgado. Vencemos em todas as instâncias. Portanto, precisamos de mais agilidade do Judiciário para que essas decisões sejam tomadas o mais rápido possível contra ou a favor do MPF, para que a questão possa chegar às cortes. Não se descarta que a sociedade civil ingresse com medidas cautelares nas cortes internacionais.
Andréa Oliveira: Como o senhor analisa o fato de que em outra usina aqui instalada, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, ter causado tantos impactos socioambientais, que poderiam ter sido evitados, e não foram? A luta existente hoje pela não construção de Belo Monte é reflexo de todos os problemas que aquele povo sofreu e ainda hoje está sofrendo, e que de certa forma influencia numa conscientização ambiental? É de certa forma uma preocupação com as futuras gerações?
Felício Pontes Jr: Andréa Oliveira, Tucuruí foi construída na época da ditadura. Não existia direito ambiental. Muito nos entristece ver que, em pleno regime democrático, ainda se fale em fazer a obra a qualquer custo, como disse o presidente Lula.
Wilson Soares (Atm-PA): Procurador, quanto tempo o sr. acha que levará as obras para que seja iniciada as obras? Do ponto de vista do Ministério Público, o país tem como se desenvolver no quesito produção de energia sem Belo Monte?
Felício Pontes Jr: Wilson Soares, as universidades brasileiras tem conhecimento acumulado e dizem que é possível gerar tanta ou mais energia do que Belo Monte com alternativas: repotenciação de usinas, melhorias na transmissão, biomassa, solar e eólica. É importante lembrar que, apesar da propaganda de que Belo Monte gerará 11 mil mw, o fato reconhecido até pelo governo é que a maior parte do ano, a usina ficará parada.
Telma Monteiro: Felicio, você leu o voto vencido do Desembargador Souza Prudente, sobre a ACP contra Belo Monte?
Felício Pontes Jr: Telma: investimentos em infraestrutura não deveriam depender de hidrelétricas. Mas o colapso dos serviços públicos causado por um grande empreendimento deve sim ser colocado na conta do empreendedor, né?
Magno BH: a mendes junior tem um processo na qual nao pagou tercerizadas em bh ela pode participar das obras de belomonte?
Felício Pontes Jr: Magno, depende de qual será a função da Mendes Jr no projeto
Tarcísio Feitosa de Belém: Felicio, o governo tenta vincular a todo momento a construção deste empreendimento que irá destriuir o rio Xingu com o asfaltamento da transamazônica, isso deixa a população local como refém desta estratégia pois a 39 anos se espera esse asfaltamento. Com a destruição da parte mais bela do Xingu o governo negativa as possibilidades de 100 anos de investimento em turismo. Isso de alguma forma pode ser levado em consideração em alguma ação judicial?
Felício Pontes Jr: Tarcísio, ao equacionar a viabilidade econômica da obra, o governo, a sociedade e nós do MPF não podemos esquecer da maravilhosa beleza do rio Xingu e o seu potencial turístico inexplorado.
Jornal da Energia: Felício, o MPF é totalmente contra a usina? Ou querem apenas o cumprimento de condicionantes? Sentem que houve “atropelo” no processo de licenciamento?
Wilson Soares: Aproveitando a pergunta do JORNAL DA ENERGIA: O MPF é totalmente contra a usina? Ou querem apenas o cumprimento de condicionantes? Sentem que houve “atropelo” no processo de licenciamento?
Luciano Costa: Felício, desculpe repetir a pergunta. Mas o MPF é totalmente contra a usina? Ou querem apenas o cumprimento de condicionantes? Sentem que houve “atropelo” no processo de licenciamento?
Felício Pontes Jr: Jornal da Energia: depois de mais de 10 anos acompanhando Belo Monte, posso lhe garantir que a obra mais cara do Brasil não produzirá 1/4 da energia propagandeada. Talvez por isso tanto atropelo no processo de licenciamento e tanto empenho em ignorar as condicionantes. Posso também garantir que alguém vai sair lucrando e não será a população do Xingu. Sendo dessa maneira, não posso ser a favor. Sou a favor do Brasil buscar alternativas para gerar energia sem obras faraônicas. Fico muito entristecido em ver que hoje a produção de energia eólica e solar nos EUA alcançou 10,37% da demanda do país, enquanto que no imenso Brasil tropical, esse índice é de 1,5%
Wilson Soares: Participei de uma audiência pública que aconteceu após a licença ambiental. Representantes da Norte Energia, bem como um representante da Eletrobrás disseram que não é Belo Monte que vai resolver os problemas da região e do povo que na região vive e que já se arrastam por 40 anos. Como o sr. analisa essa declaração?
Felício Pontes Jr: Wilson, espero que, mesmo humilde, nossa contribuição ajude a população do Xingu.
Tarcísio Feitosa de Belém: O Movimento Xingu Vivo Para Sempre já tentou articular a ida de uma comissão de lideranças indígenas até a ONU para apresentar suas reclamações contra o governo brasileiro?
Felício Pontes Jr: Tarcísio. Minha dúvida é sobre a atribuição do MPF em cortes internacionais. Confesso que temos que estudar melhor o assunto.
Verena (SP): Oi Tarcisio, em abril houve um protesto de indigenas com a presença da Sigourney Weaver em Nova Iorque durante o Fórum Permanente para Assuntos Indígenas das Nações Unidas
Edvaldo Leite: Olá. Sou morador de Altamira, no Pará. Assisti a uma exibição do vídeo no cinema Lúcio Mauro, aqui na cidade. O que vi foram jovens sem interesse nenhum; senhores comerciantes ávidos por aumento populacional, o que eles creem aumentará a venda; idosos que já não acreditam ver nada do que foi prometido há 40 anos: melhoria e qualidade de vida. Falta mais conscientização? Como o Ministério Público pode ajudar nesse sentido?
Felício Pontes Jr: Edvaldo Leite, nossa preocupação é grande quanto à isso, mas te confesso que não sei o que fazer. Vale a pena receber contribuições da sociedade a esse respeito.
Andréa Oliveira: O senhor acredita ser esta também uma luta pelas futuras gerações e a garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado?
Felício Pontes Jr: Andréa Oliveira: não consigo ver nenhuma luta no campo ambiental que não tenha consequências sobre o futuro das próximas gerações.
Mariana: Felício, digamos que (Deus nos livre) a usina seja mesmo construída. Já estudos que indiquem o que será necessário fazer para minimizar os danos?
Giuseppe: Boa tarde estou escrevendo do exterior (europa) eu tambem tenho mesma pergunta que “Mariana”
Felício Pontes Jr: Gente, minizar os danos de uma obra que vai escavar no coração da Amazônia um canal equivalente ao do Panamá é muito difícil. Quando a disposição dos empreendores e do governo e de minimizar as condicionantes em vez de mitigar os impactos, aí fica impossível. Quero agradecer a todos e vou enviar as outras informações aqui pelo site do movimento Xingu Vivo. Obrigado!