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Santo Antonio III: sem trabalho e sem rumo, atingidos aguardam definições

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A comunidade Santo Antônio, localizada no km 50 da Rodovia Transamazônica, ainda não sabe o que será de seu futuro.  “Só plantamos o que temos nos quintais. Esta área é uma agrovila – ou seja, nossos terrenos são pequenos. Trabalhamos em pequenas empresas fora daqui, ou somos pescadores. Antes trabalhávamos fazendo diárias nas grandes fazendas… Mas os fazendeiros não estão mais aqui. Já foram indenizados. E muita gente daqui ficou sem trabalho”, conta o pequeno produtor de cacau Waldemir de Souza.

“A Norte Energia [empreendedor de Belo Monte] contratou cerca de vinte pessoas para trabalhar no desmanche das casas e arrancando cercas de fazendeiros que foram indenizados, ou pra segurar equipamento topográfico. Mas quem não conseguiu ou não tinha outro emprego está numa situação difícil”, explica o morador.

Waldemir explica que a comunidade ainda não sabe se decidirá pela realocação ou pela indenização. “A outra agrovila deve ser construída a cinco quilômetros daqui [no sentido de Altamira]. Ainda estamos em dúvida entre dois terrenos diferentes. Fomos nós que escolhemos, mas estamos esperando a Norte Energia negociar com os proprietários”, expõe. Questionado se prefere indenização a realocação, diz que não pode responder – como a maioria dos moradores. “Ainda não sabemos o quanto vamos receber. Eles disseram que vão pagar por metro quadrado, e que vão indenizar o que a gente tem no quintal, mas não sabemos o quanto isso significa. Por enquanto a gente acha prefere ser realocado, mas na verdade não sabemos de nada”, lamenta.

Recomeço
Waldemir não tem grandes expectativas sobre a realocação. “Vamos ter que começar tudo de novo. A gente às vezes vai pra um lugar que pode até ser melhor do que aqui, mas quando a gente tá acostumado, quando a gente fez a nossa vida todinha num lugar”, explica. E mais: “querer sair a gente não quer. A gente vai sair porque é obrigado”, continua, sempre em tom resignado. “A gente não vai ganhar nada. Nós só vamos trocar de casa. Estamos trocando o que a gente tem, se deslocando daqui pra favorecer a barragem. Nós não ganhamos nada com isso”, explica.

“Nosso trabalho é braçal. Se a gente tivesse estudo, a gente podia ganhar alguma coisa, conseguir emprego bom. Agora, é serviço braçal, mas quando acabar a obra, vamos viver do quê? Vamos ficar na mesma, e com uma usina nos rodeando”, conclui.

Pesca
Sobre a principal atividade da comunidade que vive na beira do rio – a pesca -, os moradores da agrovila ainda não tem muita idéia do que realmente irá acontecer – mas não acreditam na versão disneilândia dos fatos apresentado pela empresa Norte Energia. Mesmo um pescador que é empregado na construção da hidrelétrica – e é declaradamente a favor de sua construção – assume que o empreendimento destruirá o rio e seu modo de vida. “Eles [a empresa] dizem que essa água aqui não vai ser prejudicada. Mas é claro que vai, né? Tem muita madeira que a gente sabe que prejudica o peixe – e isso prejudica nós, os pescadores. Vai mudar tudo”, explicita Osiwan da Silva Ribeiro, pescador de 35 anos e morador da comunidade de Santo Antônio.

Hoje, ele trabalha em uma empresa terceirizada que presta serviços para a Norte Energia. “Trabalho na topografia, segurando a mira”, explica – mas não sabe o nome do equipamento que ajuda a manejar. “É pra ver aquele negócio lá da cota d’água”. No entanto, Osiwan acha que, quando acabar a construção, estará sem trabalho. “Agora é um momento bom pra quem conseguiu os empregos. Mas quando parar tudo, vai ficar difícil de novo. Vai ficar só os funcionários de dentro”, diz. E ele não se inclui na lista dos “de dentro”.

Se ele sabe o que aconteceu com os peixes em outras experiências hidrelétricas? “A gente conhece um pessoal que mora em Tucuruí. Lá, quando foi construída a barragem, tinha muito mapará, um peixe conhecido na nossa região… Até a barragem sair, tinha muito”, conta. “Mas depois que a água baixou, depois que o rio secou, demorou doze anos pra um pescador ver um mapará”,

E conclui: “se acontecer como lá, pescador vai passar mal. Vai ficar difícil a vida do pescador”. Apesar disso, o pescador não é contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. “Sou a favor do progresso. Mas aí o governo vai ter que dar um apoio”.

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